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Talentos do futebol feminino driblam

o preconceito de gênero em campo

Em projeto social gestado no Ceará, garotas desenvolvem técnica e valores que levam pra vida. Para entrar no time, além de vocação, é preciso ter amor pelo esporte

Há quem insista em dizer que mulher e futebol não combinam. Um discurso pautado na ditadura machista do “jogo de homem”. Contrapondo a essa crença, todavia o projeto social Menina Olímpica Esporte Clube insere meninas no contexto do futebol e revela talentos no esporte. Nos treinos semanais, elas aprimoram o passe e cultivam valores como protagonismo, respeito e disciplina. A iniciativa que começou sem lugar fixo para treinos, há onze anos em Fortaleza, hoje conta com a ajuda da Marinha local, na liberação de um espaço para os encontros semanais.

Uma das 95 meninas atendidas hoje pelo projeto, Milena de Souza, 18, conta que são muitas as dificuldades para a mulher que decide firmar carreira no futebol. “Ainda falta espaço para a mulher no futebol. O preconceito ainda é grande”, afirma. Ela relata que é   corriqueiro ouvir frases como “mulher não entende de futebol”, “futebol é coisa de homem”.

Preconceito enraizado na nossa cultura e sentido também para pela jogadora Larisse Ferreira, 17, que participa do projeto há quase um ano. No dia a dia, o que mais escuta é que “mulher não joga nada”, “mulher não aguenta pancada”... Entretanto, segundo ela, tais críticas só fortalecem seu gosto pelo esporte. Larisse tem o apoio do pai, que a acompanha nos treinos e amistosos, além de incentivá-la a continuar.

Por trás do sucesso dessa iniciativa estão os profissionais voluntários que contribuem – sem qualquer pagamento - para o desenvolvimento das jogadoras. Um deles é o ex-jogador e mentor do Menina Olímpica, Chagas Ferreira. Ele afirma que, hoje, “não há investimentos do poder público no futebol feminino”. Ferreira acredita que há um “desinteresse” da sociedade em desenvolver essas categorias, e reforça: “ainda existe preconceito contra o futebol para mulheres. Muitas vezes dentro de casa, mesmo. Algumas meninas têm medo de falar para os pais que querem jogar bola, porque eles dizem que futebol não é pra mulher”. Ele conta, também, que muitas delas vão para os treinos às escondidas, mas que, com o tempo, desistem por falta de apoio na família.

Esse é um projeto que valoriza não só a atleta feminina, as a mulher. Nosso objetivo maior é formar cidadãs. Aí, se vier a atleta, ótimo”, Luciano Martins, técnico do   projeto Menina Olímpica
A gente sofria muito preconceito. Eles diziam que era pra homem, que mulher não devia jogar bola”, Joyce Nayane, jogadora do Menina Olímpica

Mas, apesar do pouco incentivo ao esporte para mulheres no Brasil, Joyce Nayane, 19, diz que “não vai desistir”. Assim como as colegas de projeto, enfrentou preconceito na escola em que estudava com a irmã, no interior do estado, quando as duas precisavam jogar junto com os meninos, se quisessem exercitar suas habilidades de jogo. “A gente sofria muito preconceito. Eles diziam que era pra homem, que mulher não devia jogar bola”, completa. A irmã parou de jogar, Joyce, não.

A luta pelo espaço da mulher no futebol é um trabalho feito a muitas mãos (e, no caso desse projeto, também de homens). O educador físico e técnico voluntário, Luciano Martins, é um desses reforços. Ele, que conduz os treinos das meninas no campo da Marinha de Fortaleza todas as terças e sextas à tarde, ressalta a relevância social do Menina Olímpica. “Esse é um projeto que valoriza não só a atleta feminina, mas a mulher. Nosso objetivo maior é formar cidadãs. Aí, se vier a atleta, ótimo”. Em campo, ele dá bronca, acompanha cada lance de perto e, mais que isso, aposta nos sonhos dessas meninas. “Nosso objetivo é trabalhar para que essas meninas cheguem na seleção”, diz.

FOTO: O time faz agradecimento coletivo do final de cada partida

FOTO: Concentração do elenco antes da partida

Não há investimentos do poder público no futebol feminino”, Chagas Barreira, coordenador do projeto Menina Olímpica

As meninas não recebem ajuda de custo para irem aos treinos, exceto para amistosos em outras cidades. A Federação Cearense de Futebol oferece bolas e apoio nas competições, outras empresas cedem material esportivo gratuitamente.

Em 2016, como resultado de uma persistência conjunta, o projeto social se tornou time, sendo concebido como Menina Olímpica Social Esporte Clube. A estreia do elenco foi no primeiro campeonato cearense de futebol feminino, promovido pela Federação Cearense de Futebol. Com um placar de 3 a 1 contra o Fortaleza, em partida no Estádio Presidente Vargas, o time conquistou o título de campeãs.

Histórias como essas (de mulheres que amam jogar futebol) mostram que o esporte está para além do gênero. E que o fato de ser homem ou mulher não deveria definir o acesso ao futebol ou a qualquer outra modalidade. Afinal de contas, gênero não determina vocação. Paixão e força de vontade, sim.

Por: Darlan Araújo - Joseanne Nery

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